Construção de cenário ferroviário em 1:120 ambientado na RMV de Divinópolis na década de 40
A Rede Mineira de Viação (RMV) foi uma das ferrovias mais importantes do sudeste brasileiro até meados do século XX, conectando centros urbanos e industriais do interior de Minas Gerais com grandes polos econômicos. A cidade de Divinópolis, à época, destacava-se como um dos principais pontos operacionais da rede, abrigando oficinas de manutenção e uma movimentada estação. Escolher esse cenário para um projeto em escala representa mais do que uma homenagem à história ferroviária brasileira: trata-se de resgatar uma época marcante para o transporte e desenvolvimento regional.
Escolha da Escala 1:120: Vantagens e desafios do uso do TT (Table Top)
A escolha da escala é um dos aspectos mais estratégicos em qualquer projeto ferroviário. A escala 1:120, também conhecida como TT (do alemão Table Top), representa um equilíbrio interessante entre nível de detalhamento e aproveitamento de espaço. Para quem busca construir um cenário com estruturas completas, como uma oficina ferroviária complexa, o TT permite incluir edifícios e cenas realistas sem exigir grandes áreas físicas. Além disso, essa escala favorece o transporte e exposição do modelo em eventos.
Outro ponto positivo da escala TT é a proporção adequada entre largura da bitola e dimensões dos vagões, o que contribui para uma circulação mais fluida e natural dos trens. Embora menos popular que HO ou N no Brasil, a 1:120 tem ganhado espaço entre entusiastas que priorizam fidelidade e contexto histórico. Essa escala também é ideal para ambientações detalhadas com vegetação, trilhos, plataformas e figuras humanas com boa definição, mantendo a harmonia visual do conjunto.
Apesar das vantagens, modelar em 1:120 no Brasil pode apresentar desafios, principalmente na disponibilidade de material rodante e acessórios específicos para a RMV. Isso exige que o modelista invista em scratchbuilding, impressão 3D ou adaptação de modelos de outras ferrovias.
Representando a Oficina Ferroviária da RMV
A oficina de manutenção de Divinópolis era um dos maiores complexos operacionais da RMV, com galpões extensos, áreas cobertas para inspeção, seções de ferramentaria e escritórios técnicos. A arquitetura era funcional, com estruturas metálicas e telhados de duas águas, amplas janelas e portas corrediças que permitiam o acesso de locomotivas a vapor. Reproduzir esse tipo de construção em 1:120 exige atenção ao detalhamento estrutural, como as vigas aparentes, chaminés e piso nivelado com dormentes de madeira.
A ambientação da oficina vai além da estrutura física. É necessário pensar na disposição das ferramentas, guindastes, trilhos internos, áreas de descanso dos trabalhadores e sinais de uso contínuo. O modelista pode reproduzir cenas de manutenção com locomotivas parcialmente desmontadas, operários com uniformes típicos da época e depósitos de peças desgastadas. A reprodução desses elementos cria uma sensação de realismo dinâmico e aproxima o espectador da atividade diária da RMV nos anos 40.
Para a construção das oficinas em miniatura, recomenda-se o uso de materiais como papelão prensado, poliestireno, MDF fino e perfis metálicos em plástico. A combinação desses materiais permite a reprodução de estruturas robustas com detalhes precisos. Técnicas de pintura e envelhecimento, como dry brush, wash e uso de pigmentos para simular óleo, ferrugem e sujeira, são indispensáveis para transmitir a autenticidade do ambiente. A base do cenário deve considerar também a instalação elétrica para iluminação interna, valorizando a maquete mesmo em ambientes com pouca luz.
Modelando o Pátio Ferroviário de Divinópolis em Miniatura
O pátio ferroviário de Divinópolis na década de 40 era um espaço movimentado, com ramais de carga, desvios de manobra, placas giratórias e áreas de abastecimento. No modelo em escala, a organização desses elementos deve obedecer a uma lógica operacional coerente. É importante estudar a topografia original e a função de cada ramal dentro do fluxo ferroviário. A disposição correta garante uma operação realista dos trens e enriquece a dinâmica do cenário.
A montagem dos trilhos em 1:120 exige precisão na geometria, principalmente em desvios e cruzamentos. Trilhos de código 55 ou 60 são ideais para simular a leveza da via permanente da época. A fixação pode ser feita sobre dormentes de madeira artificial, respeitando o espaçamento correto e a altura dos trilhos em relação ao solo. O balastro deve ser aplicado com cola diluída e cuidado para evitar excesso, simulando o desgaste do tempo e a compactação por décadas de uso.
Arquitetura Urbana e Rural: Cenários que compõem o entorno
Recriar o entorno urbano e rural de Divinópolis durante a década de 40 é essencial para contextualizar o cenário ferroviário. A cidade possuía uma arquitetura predominantemente funcionalista, com casas térreas de telhado inclinado, varandas simples e fachadas com pintura à cal. As edificações comerciais eram modestas, muitas vezes com letreiros pintados diretamente nas paredes e vitrines protegidas por treliças metálicas. Captar essas características arquitetônicas contribui para a verossimilhança do ambiente.
Para construir essas estruturas em 1:120, o modelista pode utilizar papel cartão, madeira balsa, estireno ou técnicas de corte a laser para precisão nas fachadas. A textura das paredes pode ser simulada com massa acrílica ou revestimentos específicos para maquetes, e o telhado pode ser composto com tiras de papel texturizado imitando telhas coloniais. As janelas e portas devem respeitar as proporções da escala e podem ser feitas com acetato e perfis plásticos, pintados manualmente para manter o estilo da época.
Divinópolis, na época, possuía uma zona rural muito próxima ao centro, com pastagens, hortas e pequenas propriedades ao longo das vias férreas. Incorporar elementos como cercas de arame farpado, árvores nativas, galinheiros e até carroças puxadas por bois ajuda a retratar essa transição. A junção harmoniosa entre o cenário urbano e o rural cria um pano de fundo completo, enriquecendo a composição visual e histórica do projeto.
Veículos e Personagens: A vida ao redor da linha férrea
A ferrovia nos anos 40 não era apenas trilhos e locomotivas. Havia intensa movimentação de pessoas, cargas, veículos e animais em seu entorno. Representar isso em uma maquete é fundamental para transmitir vida e ação. Personagens como maquinistas, operários, carregadores, vendedores ambulantes e passageiros adicionam profundidade à cena. É importante posicioná-los em situações realistas, como manutenção de trilhos, embarque de passageiros ou trabalho nas oficinas.
A inclusão de veículos automotores como caminhões Ford, jipes Willys, automóveis Chevrolet e ônibus regionais ajuda a definir a época. Muitos desses modelos podem ser adquiridos em kits ou impressos em 3D, respeitando a escala 1:120. A pintura dos veículos deve refletir os padrões da época, com cores sólidas e desgastes naturais do uso. Marcas de ferrugem, poeira nas rodas e detalhes como placas de identificação regional fazem toda a diferença no resultado final.
Clima, vegetação e ambientação mineira
O clima de Divinópolis é tipicamente tropical de altitude, com invernos secos e verões chuvosos. A vegetação predominante da região é o cerrado, com gramíneas baixas, arbustos retorcidos e árvores de médio porte. Reproduzir essas condições no cenário contribui para a autenticidade da paisagem e reforça o aspecto regional. O solo deve ser representado com tons ocres e avermelhados, típicos do solo mineiro, com pequenas elevações que remetem ao relevo acidentado da região.
Para simular vegetação, o uso de flocagem, fibras estáticas e arbustos modelados com espuma vegetal é altamente recomendado. Árvores do cerrado podem ser feitas com arames torcidos cobertos com massa acrílica ou silicone, e folhagem colada com cola spray. As gramíneas devem ter tons variados de verde e palha, aplicadas com aplicadores eletrostáticos para realismo. Detalhes como trechos de trilho cobertos parcialmente por vegetação espontânea dão um toque de abandono e envelhecimento que remete ao tempo.
Técnicas de Envelhecimento e Realismo
O envelhecimento é uma das etapas mais importantes para transformar uma maquete em uma representação crível da realidade. Trens, construções, ruas e equipamentos devem carregar sinais de uso, ferrugem, fuligem e desgaste natural. Para isso, o modelista pode usar técnicas como dry brush para destacar bordas gastas, lavagem com tintas diluídas para criar sombreamentos e aplicação de pós pigmentados para simular poeira e sujeira.
Detalhamento dos materiais rodantes e estruturas
Locomotivas a vapor e vagões da RMV nos anos 40 acumulavam sujeira oriunda do carvão, óleo e graxa. A simulação disso em 1:120 requer aplicação precisa de tintas escuras, manchas de óleo nos truques e fuligem nas chaminés. Estruturas como plataformas e oficinas devem ter pisos com manchas, rachaduras, trincas e sinais de tráfego intenso. Essas pequenas imperfeições são o que trazem realismo à cena e afastam o aspecto de “brinquedo novo”.
Um erro comum é aplicar envelhecimento excessivo ou sem coerência entre os elementos. É importante observar fotos reais para entender onde a sujeira se acumula naturalmente e onde o desgaste ocorre com mais intensidade. A harmonia estética deve ser respeitada: estruturas mais antigas tendem a ter aparência mais envelhecida, enquanto construções recém-reformadas ou pouco utilizadas podem estar em melhor estado. Manter esse equilíbrio torna o cenário crível aos olhos mais atentos.
Conclusão:
A construção de cenário ferroviário em 1:120 ambientado na RMV de Divinópolis na década de 40 exige planejamento detalhado, pesquisa histórica profunda e domínio de técnicas específicas. Cada parte do processo, da escolha da escala à ambientação final, contribui para formar um conjunto coeso, rico em referências visuais e funcionais. O realismo alcançado só é possível com dedicação ao estudo e respeito às características históricas e culturais do local retratado.
Projetos desse tipo são complexos e demandam tempo. A paciência para pesquisar, construir, pintar e envelhecer cada peça é o que diferencia uma maquete comum de uma obra verdadeiramente imersiva. A fidelidade histórica, aliada ao olhar artístico, transforma o trabalho em algo mais do que visualmente atraente — ele passa a ser um testemunho da memória ferroviária nacional, valorizando o passado com rigor e sensibilidade.